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Dólar hoje bate recorde e mercado corrige projeções para 2024

por João P. Silva
Dólar hoje bate recorde e mercado corrige projeções para 2024

O dólar experimentou nesta sexta-feira (12) patamares até portanto não registrados em 2024 ao beirar os R$ 5,15 na máxima do pregão. No final do pregão, houve um pequeno refrigério. A moeda norte-americana fechou em subida de 0,60%, a R$ 5,1212, ainda assim, a maior valorização em um fechamento desde 9 de outubro.

Dessa maneira, a incerteza é se a tese de fortalecimento do real, disseminada desde o ano pretérito, ainda segue de pé. Secção importante dos agentes do mercado está revisando suas projeções, com o real em posição menos sublime do que se imaginava anteriormente.

Nesse sentido, o Itaú BBA reviu sua estimativa de câmbio, subindo para R$ 5,00 por dólar em 2024. Anteriormente, a expectativa era de que a moeda norte-americana fechasse o ano em R$ 4,90. Assim, a mudança de cenário se configura também para 2025, com o dólar projetado para R$ 5,20 contra os R$ 5,10 estimados antes.

“Os fundamentos externos estão se tornando mais desafiadores”, explica Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú BBA, em relatório. Isso tem pressionado a moeda, com manutenção do cenário de dólar potente e dilação dos cortes de juros nos EUA”, explica.

Apesar da força que o dólar ganha perante o real, há atenuantes que devem melhorar o cenário para a moeda lugar até o final do ano. Mesquita destaca “principalmente o bom desempenho da balança mercantil”.

NTN-A vencendo empurra cotação

Ou por outra, na próxima segunda-feira (15) tem vencimento de NTN-A, que são títulos indexados ao câmbio. E o Tesouro Pátrio já decidiu que não vai remitir esses títulos. Assim, o mercado perde tapume de US$ 3,8 bilhões de hedge cambial. “No final do dia, um título indexado ao dólar protege das oscilações do câmbio”, explica Nicolas Borsoi, economista-chefe da Novidade Futura.

Recentemente, o Banco Medial colocou US$ 1 bilhão a mais de swap cambial, que segurou a elevação do dólar perante o real, mas teve efeito exclusivamente pontual. A disparada está relacionada ao trajo de que a Ptax (taxa de câmbio calculada para o dia pelo BC), que balizará a remuneração desses títulos, foi alinhada nesta sexta.

Inflação americana já movimentava o câmbio

Outro motivo importante para essa movimentação do câmbio é o banho de chuva fria que o mercado tomou com relação às projeções de queda dos juros nos EUA. Anteriormente, a expectativa era de cortes em junho, passando agora exclusivamente para setembro.

Isso porque a leitura do CPI veio supra do esperado pela terceira vez consecutiva leste ano.

“Isso está mudando toda a precificação de juros da curva americana, colocando a treasury longa, de 10 anos, para cima de 4,50%, puxando os juros do mundo inteiro”, afirma Paulo Gala, economista-chefe do banco Master.

Nesse sentido, os erros de projeção para golpe de juros gerou um deslocamento da curva de aproximadamente 20bps até o título de 10 anos.

“O PPI, outra índice de preços (ao produtos, divulgado na quinta) também não trouxe muito refrigério, junto com dados de ocupação que ainda não refletem um mercado desaquecido”, destaca Gustavo Zuquim, gerente de porfólio do Andbank.

“Dessa maneira, a economia dos EUA atrai mais capitais fazendo que países emergentes venham a registrar menoscabo de suas moedas locais, porquê foi o caso do Brasil”, explica o economista-chefe da gestora Rubik Capital, Lucas Dezord.

Nesse sentido, a projeção de câmbio na Rubik para dezembro de 2024 passou de R$ 5,00 para R$ 5,10 e com balanço de risco de subida se a inflação ao consumidor nos EUA não ceder nos próximos meses.

Dólar hoje no exterior

Também nesse sentido, o cenário ainda turvo sobre queda dos juros na Europa depois do transmitido do BCE na quinta, quando a instituição indicou necessidades de inflação mais fraca para redução de juros, ajudou a dar fôlego ao dólar também com relação ao euro.

O que se vê, portanto, é o dólar subindo também no exterior. O DXY, que mede o desempenho do dólar perante outras moedas fortes pelo mundo, alcançou o patamar de 106 milénio pontos, também não registrado em 2024 até portanto.

Riscos fiscais podem explicar secção da subida

Segundo Luiz Felipe Basso, CEO do Transferbank, no cenário interno, fatores fiscais podem ter pesado. Ele fala de incertezas referentes ao cumprimento das metas fiscais de resultado primitivo para 2024 e 2025. E o mês de abril é importante para a definição dessas metas fiscais na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias).

“Entendo que o cenário de riscos fiscais e a possibilidade de retardamento das metas de resultado primitivo para os próximos anos está gerando uma pressão extra altista no câmbio BRL”, avalia Basso.

Riscos geopolíticos também estão sob escrutínio do mercado

A leste cenário de tempestade perfeita, acrescenta-se ainda riscos geopolíticos relacionados ao recrudescimento dos conflitos no Oriente Médio, com os EUA posicionando seus navios de guerra para proteger Israel caso ocorro um ataque direto do Irã, previsto para que aconteça até sábado.

“As movimentações fazem secção de um esforço para impedir um conflito mais espaçoso no Médio Oriente. Fontes do Irã afirmaram que, embora os planos de ataque estejam em discussão, nenhuma decisão final foi tomada”, pondera Zuquim, do Andbank.

Com isso, preço do petróleo sobe e ouro vai à máxima do ano. “Tudo isso mostra tensões geopolíticas e todas as moedas se desvalorizam muito no mês”, diz Gala, do Master. Ele destaca as perdas das divisas asiáticas, que chegam a tombar mais de 5% em relação ao dólar em alguns casos, enquanto o real, no período, cai perto de 3%.

Dólar mais potente e real mais fraco? Não é muito assim

Para o economista André Perfeito, a trajetória do câmbio nos últimos dias não significa fraqueza do real, e, sim, uma resistência do preço do dólar, “que está potente porque a situação nos EUA está ruim, com a inflação insistindo em se manter subida”, diz.

Mesmo essa resistência do preço da moeda norte-americana não significa exatamente uma valência positiva. Pode ser até o contrário, porquê explica Perfeito. “Se o dólar está ficando potente é porque a moeda está perdendo poder de compra dentro da própria economia.”

Contraponto: real segue resiliente por ser mais ‘realista’

O economista explica que o real é, em manifesto sentido, “uma moeda realista” porque seu valor relativo depende bastante do comportamento das commodities, um pouco menos sensível a taxas de juros.

“Para o Brasil, que exporta matérias primas (mas não só), está ruim. Imagine portanto para quem exporta bens industriais (porquê os EUA) que são financiados e hipersensíveis a taxa de juros”, explica.

Com isso, o real tem valências que o dólar não possui para leste momento.

Ou por outra, o mercado opera com a perspectiva da Selic terminal em 9%, mas há evidências que não será leste o caso, “provavelmente irá fechar supra”, diz o economista, que projeta 9,75% para a taxa básica de juros ao final de 2024.

“Se isso sobrevir, de o BC trinchar menos a taxa básica, o diferencial de juros não será tão grave em relação aos EUA e isso pode ajudar a se respeitar o real”, acrescenta Perfeito.

Balança mercantil pode propiciar o real

Pesam também os consecutivos resultados positivos da balança mercantil brasileira, que acumula em 12 meses saldo recorde de US$ 45 bilhões. Ou por outra, as reservas internacionais estão em patamar ressaltado: US$ 355 bilhões.

Depois de junho (quando o horizonte dos juros nos EUA ficarem mais claros), acho que o Brasil não será visto de maneira tão sátira. Enfim, com balança mercantil e juros fortes, é muito provável que os investidores em outros grandes mercados olhem para as opções e digam, ‘e esse tal de real?’”, conclui.



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