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porquê era viver em um Brasil de 30 anos detrás?

por Abel Ferreira
como era viver em um Brasil de 30 anos atrás?

O ano era 1994 e Nathalia Fuga cursava a faculdade de veterinária. Aos 22 anos e nascida em São Paulo, ela morava em uma república em Espírito Santo do Pinheiral, no interno do Estado. Em uma de suas voltas para a capital paulista, se sentiu confusa ao passar pelo primeiro pedágio da estrada. Isso porque, na mesma estação, o Brasil passava por uma transição de moedas durante o Projecto Real.  

“Em um dia que precisei voltar para São Paulo eu não sabia porquê remunerar o pedágio. Me lembro da confusão pois não tinha certeza sobre porquê calcular os novos valores. Era maluco pois o valor em URV não aumentava, mas a cotação mudava todos os dias”, relembra. 

O que a veterinária e pedagoga cita é a mudança de moeda proposta pela equipe econômica do governo Itamar Franco.

A transição começou em março de 1994, com a geração da Unidade Real de Valor (URV), que no mesmo ano se tornaria o real. A URV funcionava porquê uma unidade de referência para a conversão dos preços enquanto a novidade moeda não chegava de vestuário. 

Criada pelo portanto ministro da Rancho, Fernando Henrique Cardoso, ela tinha paridade com o dólar e era calculada diariamente. Em 1º de março de 1993 começou custando CR$ 647,50 e terminou em 30 de junho a CR$ 2.750. 

As famosas máquinas de remarcação de preços

Os grandes estoques de comida da família também marcaram a memória de Nathalia.

Antes do Projecto Real, a ida ao supermercado era quase uma disputa olímpica.

Por conta da fragilidade da moeda pátrio e da hiperinflação, as compras precisavam perseverar – o que fazia com que as famílias enchessem a dispensa para não tolerar tanto com o aumento repentino de preços.

Nos supermercados, as máquinas de remarcação de preços eram muito comuns.

“Ir para o mercado era quase um evento. Me lembro que comprávamos muito. Muitas latas de óleo, pacotes de arroz, produtos de limpeza. Era geral, por exemplo, encher dois carrinhos. Além de um armário só para enlatados, também tinha um somente para produtos de limpeza e uma geladeira nivelado para bebidas e peças de queijo e presunto”, conta.  

Consumidores observam prateleiras vazias em supermercado durante o pacote econômico do governo Sarney, o Projecto Verão. Foto: Norma Albano/Estadão Teor – 31/1/1989

Logo, o avô de Nathalia, que na estação era possessor de uma cantina de escola, também fazia compras grandes. 

“Uma vez que os valores oscilavam muito, ele não podia permanecer aumentando toda a hora o preço para as crianças. Assim, lembro que ele fazia uma tábua de valores com um canetão e atualizava duas vezes por ano. Mas acabava tendo que haurir esse preço do mercado estocando muita coisa”, conta. 

Dos consórcios de TV até as filas nos postos de combustível

Quem também se recorda muito das mudanças de preços da estação é o revisor de textos José Teixeira Neto. Cursando Filosofia na estação, ele revisava textos acadêmicos. Com um Ford Escort a álcool e morando no bairro Cerqueira César, em São Paulo, ele conta que atravessava a cidade para abastecer em um posto de combustível no Ipiranga.  

“Unicamente porque ali cobravam um preço muito menor. Nem parava para considerar a qualidade daquele álcool. Isso para ilustrar a irracionalidade que marcava meu pensamento econômico da estação. Juntando com a reparo diária da correção monetária nos extratos bancários, que provocava incerteza, sentia que éramos cercados por um clima de baixa autoestima, só por isso, independentemente dos outros fatores da vida”, ressalta.  

Aliás, outra prática geral da estação eram os consórcios.

Uma vez que o parcelamento de compras quase não existia, essa era a opção de muitos para a obtenção de itens mais caros.

“Meu pai foi presidente de um clube e tinham muitos consórcios de automóveis. Porém, isso virou uma loucura, porque os preços das coisas subiam muito rapidamente. Me lembro que as pessoas não conseguiam tirar os carros depois. Mas os consórcios eram para tudo: desde TV até aparelhos de som”, relembra Nathalia. 

Antes do Projecto Real a inflação no auge

Para se ter uma teoria, a situação era tão grave no país que, nos oito anos anteriores ao Projecto Real, o Brasil teve quatro moedas e chegou a registrar, de concórdia com o Índice de Preços ao Consumidor Espaçoso (IPCA), um aumento anual de quase 2.500%. Antes disso, alguns planos econômicos foram implementados e fracassaram: Projecto Cruzado, Projecto Bresser, Projecto Verão, Projecto Collor 1 e Projecto Collor 2.

Centenas de pessoas comemoram a autuação do supermercado Jumbo Pompéia por aumentar os preços de diversos produtos. Em 1986, para sustar a hiperinflação, o ministro da herdade do governo de José Sarney, Dilson Funaro, lançou o projecto Cruzado. Foto: Registro/Estadão Teor – 3/3/1986

Além dos corredores dos supermercados e postos de gasolina cheios, a situação econômico-financeira da estação trouxe peculiaridades na dinâmica de trabalho de Julio Cesar Ary.

O tecnólogo em gestão empresarial nasceu e foi criado em Fortaleza, no Ceará. Ele dedicou a maior secção da vida profissional porquê empresário na superfície de sinalização e segurança viária.  

Ele conta que, porquê os contratos de sua empresa eram, geralmente, com órgãos públicos, havia o problema de consideráveis atrasos nos pagamentos das obras e fornecimentos para o governo.  

“Existia portanto o ‘bom siso’ dos funcionários públicos no sentido de segurar as medições realizadas e só implantá-las quando a verba destinada ao pagamento chegasse aos cofres do órgão. Se essa prática não existisse, seria impossível a ininterrupção dos contratos públicos e a consequente bancarrota das empresas, pois a longa espera ‘derreteria’ o valor do verba”, conta.

Ele relembra que, prestes a completar 30 anos de idade, não tinha mais esperança de estabilização econômica no Brasil. 

Quando tudo começou a mudar 

Foi neste contexto que, no dia 1º de julho de 1994, a ingressão em circulação do real mudou o cenário de inflação no país. José Teixeira Neto conta que se sentiu esperançoso ao presenciar esse processo da URV sendo progressivamente implantada até transformar-se em real. 

“Foi motivo de orgulho testemunhar que nós, porquê povo, havíamos conseguido um feito da história econômica mundial — e sem recorrer a tabelamentos. Porque todo o processo não foi plenamente entendido pela maioria das pessoas. Até pareceu mágica, milagre, para mim também”, conta. Na visão dele, a surpresa inicial em torno do projecto, seguida da reparo, nas semanas e meses seguintes, do sucesso que obteve, trouxe orgulho e a sensação de que era verosímil planejar um horizonte melhor para o país. 

Assim, essa visão também foi compartilhada por Julio.

“A inflação começou a despencar imediatamente, ficando aquém de 7% depois um mês da implantação do projecto. O Brasil ganhara finalmente uma moeda inabalável”, conta. A partir dali ele sentiu a vida melhorar. 

Quem também viu uma mudança foi a administradora Luciana Castro Maciel, que tinha 16 anos na estação do Projecto Real.

A manutenção estável de preços e a premência de grandes estoques na dispensa marcaram a história da sua família.

“Lembro claramente do momento de lançamento da novidade moeda e das explicações de conversão de um URV em um real”, conta. 

Depois do Projecto Real, de concórdia com ela, a dinâmica de compra mudou, com um consumo voltado para a semana. “Entre os anos 1994 e 2014, vivi tempos de prosperidade e conquistas de objetivos porquê a peroração de faculdade e pós-graduação e a compra de um apartamento popular, mesmo tendo pretérito pela crise de 2008, do dólar”, conta.

Por outro lado, José não notou uma mudança tão expressiva na qualidade de vida da sua família no período seguinte à adoção do novo meio manante. “Mas ouvi muitos casos de pessoas de classe média baixa que melhoraram sua quesito econômica. Gostei de voltarmos a usar moedas metálicas, que não se desgastam, ao contrário do papel-moeda. E até as de um centavo eram consideradas e guardadas”.

Projecto Real: um divisor de águas?

José afirma que sua quesito econômica hoje é pior do que há trinta anos, e até do que há dez anos. “Fico pensando porquê tudo estaria ainda pior se, além de tudo, ainda tivéssemos de mourejar com uma inflação subida e descontrolada”, analisa. 

Nathalia, que percebeu melhora nas condições financeiras de sua família com o Projecto Real, conta que o poder de compra dos pais, por exemplo, é menor hoje em dia do que na estação de estabilização do real. “Ao contrário dos meus pais (que são funcionários públicos), eu e meu marido trabalhamos na iniciativa privada, portanto o verba oscila mais. Mas acredito que o poder de compra diminuiu”.  

Já na vida de Júlio, o Projecto Real foi um divisor de águas.

“Literalmente divisor, pois exatamente a metade da minha vida fora assolada pelos constantes reajustes de preços e cinco moedas diferentes, e a outra metade com uma moeda potente e uma inflação equiparada aos países de primeiro mundo. Resta agora crer que viverei para ver o Brasil no patamar de um país com segurança e incremento econômico sustentável”.  



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